Figueira da Foz - Maria Pia de Sabóia
A Casa do Paço, em tempos o mais importante edifício da Figueira da Foz, foi construído em finais do séc. XVII, para residência estival do bispo de Elvas, de Viseu e de Bispoconde de Coimbra, D. João de Mello (1624-1704). D. João de Mello instituiu um morgadio cujo vínculo era o Paço da Figueira da Foz, englobando terras e salinas em áreas próximas. O morgadio foi herdado por seu sobrinho, D. António José de Mello Mendonça, cujos descendentes foram
condes da Figueira, mantendo-se a Casa do Paço na posse da família Mello até às primeiras décadas do séc. XIX.
Situado em frente ao cais do porto da Figueira, a Casa do Paço é um edifício de características solarengas, com planta em “U”, de inspiração francesa e de formas austeras e rígidas, em que apenas a cúpula do torreão quebra a monotonia do seu aspeto exterior.
A fachada principal, virada ao rio, revela um barroco elegante e sóbrio, com o seu único torreão, sendo visível a similitude arquitetónica com a fachada norte do Convento de Santa Isabel ou Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, obra de frei João Turriano, sob a tutela pastoral de D. João de Mello. Este imóvel não chegou a conhecer a concretização do projeto inicial, que previa a construção de um segundo torreão. O interior, que foi alvo de diversas transformações, possui grandes divisões, algumas das quais cobertas por elevadas abóbadas. No torreão, a cúpula termina em falso lanternim.
Classificada como Imóvel de Interesse Público em 1967, a Casa do Paço assume especial relevância pela sua invulgar coleção de azulejos holandeses de figura avulsa, a maior coleção do mundo de azulejos holandeses de figura avulsa, do século XIX, ainda no seu local original, de uma beleza e qualidade invulgar, constituindo por isso uma rara e singular coleção. Habitualmente associados a Delft, estes azulejos revestem quatro salas do piso nobre, num total de cerca de 7.000 exemplares, divididos em três categorias: paisagens campestres e marinhas, pintados a azul cobalto sobre fundo branco; cavaleiros, amazonas, imperadores romanos e personagens históricas, pintados a manganês sobre fundo branco e temas bíblicos, pintados a manganês sobre fundo branco.
Produzidos em Roterdão, no início do séc. XVIII, desconhecem-se as circunstâncias da sua chegada à Figueira da Foz. Entre as diversas teorias sobre a sua origem, prevalece a hipótese do resgate da carga de uma fragata holandesa, que naufragou na praia em 1706 na foz do rio Mondego, e cujo espólio terá sido leiloado pela Alfândega. Em pleno século XIX, a Casa do Paço era o centro da vivência social e associativa da Figueira da Foz, tendo sido o espaço escolhido para ser servido o almoço à comitiva real, durante a visita dos reis de Portugal, D. Luís I e D. Maria Pia, no dia 3 de agosto de 1882, no âmbito da inauguração da linha ferroviária da Beira Alta. O menu era variado e contava, por exemplo, com sardinhas e peru assado com agriões. Mas o momento mais alto foi o brinde: no qual D. Luís promete elevar a Figueira da Foz a cidade, o que vem a acontecer a 20 de setembro desse ano.
(Classificado como IIP – Imóvel de Interesse Público)