D. Teresa, Soure e a Reconquista Cristã
D. Teresa era filha bastarda de Afonso VI, rei de Leão e Castela, casado com Ximena Moniz. Estima-se que tenha nascido em 1080. Na década seguinte, casou com Henrique da Borgonha e recebeu como dote o Condado Portucalense. Dele teve alguns filhos, com destaque para D. Afonso Henriques que viria a ser o primeiro rei de Portugal. A viabilização do condado, enquanto unidade autónoma dependia da relação estabelecida com as autoridades de Leão e Castela, mas também da proteção da fronteira a sul, onde os almorávidas eram um problema ameaçador.
Nesse sentido o castelo de Soure, como importante ponto estratégico na proteção de Coimbra e na preparação de um eventual avanço para sul, recebeu a merecida atenção por parte dos condes. Assim, Em 1111, D. Henrique e D. Teresa atribuíram carta de foral a Soure, procurando atrair e fixar população.
Na década seguinte inaugurou-se uma nova página na história de Soure, com a doação de D. Teresa à Ordem do Templo, “confirmada” a 14 de março de 1129 por D. Afonso Henriques. D Teresa ficou viúva em 1112 e, consequentemente, assumiu a liderança do Condado Portucalense.
Numa primeira fase, D. Teresa continuou a política separatista iniciada pelo seu marido, ao ponto de, partir de 1117, começar a assinar como “regina”, ou seja, rainha de Portucale. O afastamento dessa política levou à revolta da nobreza portucalense, que saiu vencedora na batalha de São Mamede, em 1128. D. Teresa morreu na Galiza, dois anos depois. Hoje, o seu corpo encontra-se na Sé de Braga, junto do corpo do conde D. Henrique.
Templários em Soure
A Ordem dos Templários era uma Ordem religiosa e militar criada durante a era das cruzadas, com o propósito de defesa dos lugares santos da Palestina e proteção dos peregrinos. A designação “Ordem do Templo” ou “Templários” explica-se pelo facto de a sua primeira sede ter sido na Mesquita de Al Aqusa (que tinha sido construída sobre o antigo Templo de Salomão). Foi D. Teresa quem se apercebeu da importância que os Templários podiam ter para o Condado Portucalense e, por isso, doou-lhes Soure e uma ampla faixa de território entre Coimbra e Leiria.
D. Afonso Henriques comprovou esta doação em 1129, pelo que Soure tornou-se a casa mãe de um vasto domínio territorial. Ao longo do tempo, a Ordem cresceu, ganhou maiores deveres militares, prestígio e riqueza, o que lhes granjeou muitos inimigos. Em Portugal, formalmente a Ordem do Templo acabou durante o reinado de D. Dinis. Posteriormente, foi criada a Ordem de Cristo, uma milícia que herdou recursos humanos e materiais da extinta Ordem do Templo, onde se incluía o castelo de Soure.
Foral de 1111
Em 1111, Soure recebeu carta de foral dos Condes D. Henrique e D. Teresa. Aí, apresentava-se um conjunto de privilégios que tinham o objetivo de atrair e fixar populações, compensando assim os riscos de se viver numa zona de fronteira. Em 1217, no reinado de D. Afonso II, este foral foi, também, confirmado. Entre os privilégios concedidos à população de Soure estava a liberdade de poderem escolher o senhor a quem servir, ou até mesmo de poderem ir para outra terra, mantendo os seus bens, mas também podendo vendê-los, ou doá-los.
O documento determinava também que os juízes seriam naturais de Soure. Havia depois um conjunto de isenções fiscais, tendo as populações que pagar, da porção que costumavam dar, metade dos comestíveis, um décimo do vinho; já a caça (carne e pele), o mel e a cera tinham isenção total. O documento definia ainda condições mais vantajosas para os soldados e os clérigos que aqui vivessem. Não era fácil viver na fronteira. Uns meros cinco anos depois desta carta de foral ter sido dada, os habitantes de Soure viram-se obrigados a incendiar a povoação e fugir para Coimbra. Passado o perigo, Soure não continuou abandonada durante muito tempo, o que também demonstra a eficácia das medidas redigidas neste foral.